13 agosto, 2009

Crescente, cheia, minguante (Antonio Prata)

Estava ali no sofá, Coca-cola numa mão, controle remoto na outra, quando dei de cara com a lua, na TV Cultura. Uma voz seríssima - como convém aos narradores de documentários - perguntava: “de onde terá vindo?”

Ora, até aquele momento, eu pensava que a lua não tivesse vindo de lugar nenhum, simplesmente girasse ao nosso redor, des’que o mundo é mundo, a influenciar marés e poetas bissextos. Pois o homem disse que não. Houve uma época em que toda noite era escura, não havia marés nem poetas bissextos e a Terra rodava em torno do sol, desnuda de seu satélite natural.

“E aí?! E aí?!”, perguntei-me, angustiado em meu sofá, como se perdido no breu das noites primevas. Bem, não se sabe exatamente. Ou vários pedregulhos que estavam vagando por perto - serragem da criação do Sistema Solar - acabaram se aglomerando e formando a lua, ou, o que é mais provável, ela é um naco da Terra, arrancado pelo impacto de um asteróide. E esse naco, antes disforme, girou por tanto tempo à nossa volta que acabou redondo, “como um caco de vidro à beira mar.” – palavras do narrador.

Uma das missões do programa Apolo era descobrir do que a lua era feita e, assim, provar uma das teorias. Se fosse sangue do nosso sangue, seria filha do impacto. Se feita de serragem do sistema solar, a hipótese do aglomerado vencia. Pois Neil Armstrong e seus colegas trouxeram todos os pedregulhos que couberam nos porta-malas do módulo lunar, os cientistas da NASA analisaram tudo com seus aparelhos e, no fim, vieram a público dizer que, bem, não haviam chegado a uma conclusão. A lua era parecida demais conosco para negarmos que fosse nossa costela, mas diferente o suficiente para suspeitarmos que, bem, talvez não fosse.

O mais incrível, contudo, o homem de voz grave deixou para o final. Em 1969, os astronautas deixaram em solo lunar um quadradinho de cristal, menor do que uma carta de baralho. Toda noite, desde então, num vilarejo do Texas, um sujeito chamado Phil pega sua bicicleta, pedala até o topo de uma colina e puxa o gatilho de um enorme canhão de laser, mirando bem no meio do quadradinho. O laser bate lá, volta à Terra e Phil anota quanto tempo demorou. A cada dia, o raio demora mais para voltar, o que prova algo que os cientistas já desconfiavam: atraída pelo sol, a lua se afasta de nós, 1,89 cm por ano. Um dia, ela estará tão próxima ao sol que será engolida pelas chamas.

Terminado o documentário, eu estava melancólico como o diabo. No fim das contas, a lua se parece muito com outra coisa, que sabemos do que é feita, não exatamente como surgiu e só podemos afirmar com certeza que um dia acabará. Enquanto isso, brilha - dirá o poeta bissexto. Algumas noites, algumas noites...


Antonio Prata:

http://blog.estadao.com.br/blog/antonioprata/

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