24 janeiro, 2017

Ruas de Santo Amaro


Me esquivo da cigana
compro ouro, diz o outro
uma índia guarani estica sua mão
pego o folheto do supletivo

a chuva castiga todos nós
desavisados
desprotegidos
ensopados

se ela estivesse aqui iria lá pra fora
para se molhar sem medo
quando lhe dá vontade
quer beber Coca-Cola

desço pela Alameda
com as mãos nos bolsos
a gola da jaqueta a la Elvis
e uma coleção de lembranças



A Cidade Desejo


Os olhos
são a janela da alma
e da sua janela
posso ver toda a cidade

enquanto recupero meu fôlego
e o suor escorre pelo meu corpo
tomo o último gole de cerveja
já morna

desabo na cama
estacionando meu olhar ao seu
Marco Polo nunca chegou aqui
nem Ítalo Calvino imaginou esse lugar

preciso me vestir
verificar se não estou esquecendo nada
parece tudo certo
existem coisas que só percebemos na despedida 



16 janeiro, 2017

Monocromático


E então 

ela me morde de volta 
sua força é desproporcional 
quase se apóia em mim pela boca 

suas pernas me envolvem 

seus braços me envolvem 
não tenho como escapar 
nem quero 

ela me come 

este sonho pertence a ela 
sou um intruso 
um quadro na parede 

e o que vai acontecer? 

não sei 
só sei que 
deus odeia os covardes



09 janeiro, 2017

Sinestesia


Já aviso 
de bate-pronto
esse é um exercício impossível
mau calculado

talves contratar o Stephen Hawking
para saber das minhas chances
quantos por cento?
não aceito menos que 100%

pode arredondar
não faço questão dos decimais
sou ascendente em Touro
ajuda saber?

quando os sonhos 
se estreitam com os desejos
quero te misturar
com a realidade