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22 setembro, 2010


Voltando para casa ontem à noite, ouvi a voz do LULA no rádio.

Era propaganda eleitoral. Dizia:

“Quando eu estava preso na época da ditadura, senti uma dor de dente horrível, e foi o Tuma quem me levou ao dentista já de madrugada, para fazer um canal.”

O que é isso? Votamos nele, pois como agente da repressão duranto a ditadura, tinha sensibilidade para levar um preso ao dentista?!



por Marcelo Rubens Paiva


18 maio, 2010

Ah, vai se fuder, Rosanna Arquette!


Cala a boca, tá? Você não queria me ouvir falar? Então cala a porra dessa boca. Cala essa sua maldita boca e me ouve. Você tava me achando patética? Patético é você falando sem parar, querendo se mostrar articulado, capaz de fazer equivalências cinematográficas. Que que é? Tá tentando me impressionar com sua cultura de "Guia de Cinema"? Vai tentar impressionar o Rubens Ewald Filho e vê se me deixa em paz. Eu não tava me fingindo de muda, idiota. Eu tava camuflada. Eu me camuflei de muda, entendeu? É diferente. Você quer saber o que é patético? Então presta atenção: Meu pai num canto do quarto, sozinho, entrincheirado, assistindo tv e alheio do resto do mundo. Eu lembro dele pelado lá na frente da tv. Ele ficava assistindo a tv completamente pelado. Ele parecia com a Yoko Ono na capa do "Two Virgins". É, ele se parecia com a Yoko Ono, é esquisito falar isso, né? Falar que o seu pai se parecia com a Yoko Ono, mas é verdade. Tá sacando o tamanho do patético? Eu tinha um pai que se parecia com a Yoko Ono e ele ficava o dia inteiro pelado assistindo tv e bebendo vodka, sintonizado em algum canal na sua cabeça maluca. Um canal que nenhum satélite tinha a manha de alcançar. E às vezes ele soltava um grito, do tipo assustador. Um grito de aflição ou de pavor, se você for capaz de distinguir um do outro. Do tipo que você ouviu agora há pouco, sabe como? Aí ele se tocava e ficava constrangido por ter gritado sem um motivo aparente, um motivo perceptível. Podia ser um filme de terror no canal da sua cabeça, um Nosferatu do Murnau, já que você é chegado em equivalências cinematográficas. Ele ficava constrangido e se recolhia de novo pra aquele mundo estranho que só ele conhecia e do qual a gente devia manter uma distancia segura, do seu canal particular, um canal a la carte conectado aos cabos da sua cabeça. Eu lembro dele assustado, na maca do hospital. Uma criança assustada acorrentada ao corpo de um velho. Um velho com sua dor, uma dor que alguém queria arrancar dele. Uma dor que ele passou pra mim. Um susto que durou tempo demais. E eu fiquei lá arrepiada, com os sentidos alterados por alguma espécie de adrenalina aflitiva. Eu pensava : "Essas coisas terríveis só acontecem em ER ou nas casas dos outros". Eu devia prever. Você não pode ter um pai que parece com a Yoko Ono e achar que tá tudo normal. Meu pai queria fugir daquela maca, algum sacana num momento de distração foi lá e mudou o canal da sua cabeça, ele queria voltar pra frente da sua tv, pra sua vodka e pro seu jornal. E meu pai gritava com a voz pastosa : "Me tirem dessa merda". Mas a gente se fez de surdo, a gente fazia de conta que não tava entendendo. Ou sei lá, vai ver a gente nem tava mesmo. A gente tava ocupado demais sentindo medo. A enfermeira com carinha de Rosanna Arquette...tá vendo só como eu sei realmente fazer equivalências cinematográficas? Acho que eu também sou capaz de impressionar o Rubens Ewald Filho...A enfermeira com carinha de Rosanna Arquette chegou pra mim e disse : "Eles costumam ficar agitados nessa hora". Ah, vai se fuder, Rosanna Arquette. Vai chupar algum plantonista de merda na cozinha do hospital. Não me vem com essa complacência, com essa falsa bondade escrota. Eu sei do que tô falando. O cheiro do hospital, o cheiro insuportável do hospital, os tubos, o médico que não aparecia, eles sempre tão em alguma emergência, você já reparou que eles sempre tão em alguma emergência? A minha mãe que ficava ligando no meu celular, as fraldas, o bip dos aparelhos. Eu corri pro corredor. Concentrei toda a atenção na minha mão, nas linhas da minha mão. Tem um mistério ali. As ciganas tão certas em tentar decifrar. Tem um mistério ali. Nas linhas da mão. Eu fiquei ali, olhando pra ela, tentando inutilmente decifrar o mistério, rezando pra que o mundo parasse, o canal da minha cabeça desligasse e me conectasse imediatamente com um canal estranho e pra que eu pudesse gritar de pavor como o meu pai assistindo algo tão assustador como Nosferatu do Murnau.

ISIS, de Mário Bortolotto (do roteiro do filme "Meu mundo em perigo").

17 maio, 2010

O desespero da diversão incomoda


É como se a regra da Virada fosse assistir a todos os shows, beber todas as cervejas e estar presente em todos os lugares

MÁRIO BORTOLOTTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

E algo me dizia que não devia ou que não conseguiria. Quando me pediram pra escrever um texto com minhas impressões sobre a Virada, pensei: "Mas eu vou participar disso?"
Saí anteontem de casa por força de compromissos profissionais. Tinha um show pra fazer com a banda Saco de Ratos e uma apresentação da peça "Música para Ninar Dinossauros". Não fosse por esses compromissos, não teria colocado o nariz pra fora do meu "bunker-kitchenette" nem para aspirar o doce ar da noite paulistana (e isso não é nenhuma ironia), que anteontem estava por demais aflitiva, aumentando em escalas assustadoras minha crescente agorafobia.
Talvez ainda esteja longe de me tornar um antissocial, mas tenho de confessar que já não me sinto à vontade em lugares apinhados, mesmo sabendo que tenho de atravessar o viaduto do Chá na hora do rush três dias por semana. Acho que a Virada tem tido um efeito positivo nas pessoas que assistem aos shows -e também nos artistas que trabalham. Então, este não é um texto antiVirada. É simplesmente minha "trip" personalíssima e atual.
Minha retirada exclusivamente voluntária se baseia na ideia de que não consigo me divertir onde muitas pessoas buscam desesperadamente fazer o mesmo. E é justamente esse "desespero" que me incomoda.
A diversão não me incomoda, muito pelo contrário. Gosto de me divertir e gosto de ver as pessoas se divertindo.
Mas o desespero me incomoda, e a alegria se revela paradoxal, como se fosse necessário assistir a todos os shows, beber todas as cervejas e estar onipresente nos lugares. E, obrigatoriamente, se divertindo muito.
Essa é a regra, não é?
Me parece um reflexo do tipo de aflição que nos persegue atualmente. Nossos trabalhos são tão chatos, nossas opções de vida se mostraram tão insatisfatórias e a diversão é tão rara que agora nos sentimos obrigados a usufruir da maneira mais violenta possível nas ocasiões em que ela se manifesta.
Foi o que melancolicamente senti anteontem à noite enquanto procurava desviar da multidão apressada para proteger meu braço recém-operado e revestido de titânio.
Vendo as pessoas tomadas por uma alegria forçosamente intensa e por uma espontaneidade que me remete a festas lisérgicas, fui ficando irreversivelmente desanimado. Minha alma frouxa foi se acabrunhando de maneira terrível, e tudo o que eu queria era alguma espécie de fuga, um retiro voluntário, um exílio pré-determinado. Algum tipo de paz.

Coliseu moderno
Talvez tenha a ver com a idade, ainda preciso pensar nisso, pra não parecer leviano com minhas próprias atitudes. Mas enfim: o que sei é que talvez seja necessário fazer uma reflexão maior.
Hoje, nós temos os quatro dias de Carnaval, o futebol de domingo, o chope do sábado à tarde. Na Roma Antiga, era o Coliseu, uma espécie de válvula de escape da multidão que, pelo menos em uma hora ou duas, se sentia aliviada vendo leões devorando cristãos ou gladiadores tendo as cabeças decepadas. Não vou simplesmente virar meu polegar pra baixo ao falar da Virada, mas também não vou fazer o sinal de positivo.
Continuo achando que há algo estranho numa sociedade que precisa "desesperadamente" se sentir aliviada e feliz por algumas horas. Não deveria esse ser um direito nosso o ano todo?

23 agosto, 2009

10 TRILHAS MARCANTES DA HISTÓRIA DO CINEMA:
- METROPOLIS - de Gottfried Huppertz, uma das primeiras trilhas de filme-mudo compostas especialmente de acordo com a narrativa do filme
- LIMITE - Mario Peixoto foi dos primeiros a sacar como a música de Erik Satie parecia feita para o cinema
- LAURA - a trilha de David Raksin é um dos momentos mais marcantes da Era de Ouro das trilhas sonoras
- PSICOSE - o ponto alto da carreira de Bernard Hermann, virou sinônimo de suspense
- 2001 - Kubrick pôs o Universo pra dançar ao som de Strauss
- EASY RIDER - Primeira trilha a apostar com sucesso no uso de canções compiladas
- DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL - Sergio Ricardo captou a urgência do cinema de Glauber Rocha
- AMARCORD - Nino Rota traduziu musicalmente o universo de Fellini
- STAR WARS - John Williams e o épico intergaláctico que mudou o cinema de hollywood
- PULP FICTION - a compilação de canções marcantes ilustra o cinema de referências pop de Tarantino com perfeição

fonte: Cult Blog.

13 agosto, 2009

Crescente, cheia, minguante (Antonio Prata)

Estava ali no sofá, Coca-cola numa mão, controle remoto na outra, quando dei de cara com a lua, na TV Cultura. Uma voz seríssima - como convém aos narradores de documentários - perguntava: “de onde terá vindo?”

Ora, até aquele momento, eu pensava que a lua não tivesse vindo de lugar nenhum, simplesmente girasse ao nosso redor, des’que o mundo é mundo, a influenciar marés e poetas bissextos. Pois o homem disse que não. Houve uma época em que toda noite era escura, não havia marés nem poetas bissextos e a Terra rodava em torno do sol, desnuda de seu satélite natural.

“E aí?! E aí?!”, perguntei-me, angustiado em meu sofá, como se perdido no breu das noites primevas. Bem, não se sabe exatamente. Ou vários pedregulhos que estavam vagando por perto - serragem da criação do Sistema Solar - acabaram se aglomerando e formando a lua, ou, o que é mais provável, ela é um naco da Terra, arrancado pelo impacto de um asteróide. E esse naco, antes disforme, girou por tanto tempo à nossa volta que acabou redondo, “como um caco de vidro à beira mar.” – palavras do narrador.

Uma das missões do programa Apolo era descobrir do que a lua era feita e, assim, provar uma das teorias. Se fosse sangue do nosso sangue, seria filha do impacto. Se feita de serragem do sistema solar, a hipótese do aglomerado vencia. Pois Neil Armstrong e seus colegas trouxeram todos os pedregulhos que couberam nos porta-malas do módulo lunar, os cientistas da NASA analisaram tudo com seus aparelhos e, no fim, vieram a público dizer que, bem, não haviam chegado a uma conclusão. A lua era parecida demais conosco para negarmos que fosse nossa costela, mas diferente o suficiente para suspeitarmos que, bem, talvez não fosse.

O mais incrível, contudo, o homem de voz grave deixou para o final. Em 1969, os astronautas deixaram em solo lunar um quadradinho de cristal, menor do que uma carta de baralho. Toda noite, desde então, num vilarejo do Texas, um sujeito chamado Phil pega sua bicicleta, pedala até o topo de uma colina e puxa o gatilho de um enorme canhão de laser, mirando bem no meio do quadradinho. O laser bate lá, volta à Terra e Phil anota quanto tempo demorou. A cada dia, o raio demora mais para voltar, o que prova algo que os cientistas já desconfiavam: atraída pelo sol, a lua se afasta de nós, 1,89 cm por ano. Um dia, ela estará tão próxima ao sol que será engolida pelas chamas.

Terminado o documentário, eu estava melancólico como o diabo. No fim das contas, a lua se parece muito com outra coisa, que sabemos do que é feita, não exatamente como surgiu e só podemos afirmar com certeza que um dia acabará. Enquanto isso, brilha - dirá o poeta bissexto. Algumas noites, algumas noites...


Antonio Prata:

http://blog.estadao.com.br/blog/antonioprata/

10 agosto, 2009

Arnaldo Batista, Simonal e Tim Maia

Em vez de Loki, o título do documentário que conta a tragédia de Arnaldo Batista, podia ser: “A capacidade que determinadas mulheres têm para foder com a vida de determinados homens”. Pelo menos a Rita Lee não apareceu no filme para dizer que o coitado que ela resolveu apagar dos seus registros é um gênio. Achei honesto da parte dela. E, para ser sincero, não podia esperar nada diferente de uma senhora que acende incensos, reza para alfaces hidropônicas e condena os consumidores de chuleta ao fogo dos infernos. Parceirinha do Jabor. No documentário, algumas pessoas dão depoimentos sinceros, e confessam a incapacidade diante do desconhecido – o que já é alguma coisa ou pode ser coisa nenhuma, depende do ponto de vista.


Paulo Henrique Fontenelle, o diretor de Loki, costurou bem os labirintos que levaram Arnaldo Batista a si mesmo, mas podia ter evitado o deslumbramento diante de depoimentos de bichinhas internacionais e quiméricas do feitio de Sean Lennon, não precisava disso. Já temos as nossas, muito mais dispensáveis e muito mais afetadas, era só chamar um DJ da MTV e pedir para ele falar meia dúzia de redundâncias, e pronto.


Penso que a única pessoa que tem autoridade de fato para se manifestar com relação à tragédia que aconteceu na vida de Arnaldo Batista (além do próprio), é a mulher que o resgatou da UTI e que cuida dele até hoje. Como se a atual governanta de Batista fosse o avesso da Rita Lee, sendo que as duas – passados os anos - acabaram ficando uma com a cara da outra. Curioso, né?


Agora, o que me deixou transtornado foram os caroneiros e sanguessugas. A figura que não desgruda da minha mente é Nelson Motta. Sempre ele, de óculos escuros, nos lugares certos e nas horas adequadas – tirando sua casquinha. Virou oráculo. Só no Brasil mesmo, a gente merece ter um oráculo das casquinhas. Quem viu o documentário “Cartola” deve lembrar de Nelson Motta, quase um garoto, entrevistando o autor de “O mundo é um moinho”: em dado momento, não sei se foi antes ou depois de fazer uma média com o fascistão do Roberto Carlos, Motta atribui uma certa “realeza” ao sambista. A meu ver, algo tão sórdido e repulsivo quanto as sífilis e gonorréias e o apodrecimento de Cartola em vida. Aquele velho discursinho feito à clef - ontem e hoje, desde sempre - para o deleite e consumo do público lírico e asqueroso do Cine Unibanco. Uma bravata que serve – já escrevi sobre isso, mas vou repetir: - para aplacar conscienciazinhas pesadas. Uma mentira que desde sempre rendeu subsídios simpáticos e muito prestígio para aproveitadores do gênero. Hoje virou política de estado no Governo Lula; estamos, enfim, atolados até a medula nessa merda generosa - às vezes admirável e iluminada (reconheço) - chamada cultura popular brasileira. Ou, como diz o próprio Cartola, “Corra e venha ver o sol”.


Corra de quem? Da polícia?


Nelson Motta nunca precisou correr da polícia, e de ninguém, sempre foi ao encontro do aconchego. Motta é o homem cordial. E, é claro, não podia deixar de escrever a biografia de Tim Maia, e de dar seus pitacos sobre Wilson Simonal, dessa vez como entrevistado. A sentença de Motta: “Simonal era um gênio, Tim Maia também, bastava fazer três pedidos a ele. Arnaldo Batista o maior de todos”.


É muito fácil – depois de quase 40 anos - chegar a essa conclusão esparramado numa chaise-longue. E quando eles estavam vivos e gritavam “eu posso voar” quem é que lhes dava asas, crédito?


Eu só queria ver Nelson Motta, nos 70’s, proclamar que Simonal era um gênio. O documentário do “seu Creysson” defende a tese de que Simonal não era um dedo duro, porém tinha licença para ser um filho da puta. Até aí, nada demais. O problema é que, na época em que Arnaldo Batista enlouqueceu e que Simonal foi apagado do mapa, e que Tim Maia foi proibido de pisar na Rede Globo, nem Nelson Motta nem nenhum outro oportunista deram um pio. Omitiram-se, enfiaram o respectivo rabinho de grife entre as pernas. Não ia ser “bacana”, e eles, Motta e assemelhados, são caras antenados, legais e descolados. Jamais comprometeriam osavoir-faire, eu acho que é assim que funciona. Né? Dá nojo.



texto completo de Marcelo Mirisola:

http://congressoemfoco.ig.com.br/coluna.asp?cod_canal=14&cod_publicacao=29252

17 março, 2009

É PRECISO MUDAR O HOMEM

Dez mil anos já se passaram desde que o primeiro homem aproveitou-se do trabalho do vizinho para lucrar. E até agora nada mudou. Civilizações surgiram e desapareceram. Impérios soçobraram. Guerras, fome e miséria acompanham a humanidade desde então. E nada. Absolutamente nada mudou.

Culpar a quem, senão ao próprio homem?

Propostas surgiram, avançaram, mas jamais alcançaram o bem-estar.O homem continua só e solitário. A batalha do dia-a-dia não lhe permite raciocinar. E o que é a batalha do dia-a-dia senão guerra de outro tipo?E o que é a exploração do homem pelo homem que não escravidão disfarçada?

O que fazer?

Essa pergunta já foi feita e deu no que deu.

Outra pergunta: É possível mudar o sistema sem mudar o homem?

É a História quem responde: nada feito.

Mudar o homem.

Eis a solução.

Mas de que forma?

Alguém tem alguma idéia?

Diógenes percebeu isso há 2.500 anos. Quando lhe perguntaram a razão de andar com uma lanterna acessa durante o dia, respondia: procuro o homem.

Platão fez algumas sugestões, Aristóteles também tentou. Que o digam Santo Tomás de Aquino e Santo Agostinho.

Os utopistas cansaram de oferecer alternativas.

Thomas Morus dirá que o decapitaram e depois o santificaram.

Tudo por obra do animal homem.

Até Marx foi enganado.

Porque acreditava no homem generoso e no homem solidário.

O resultado todos conhecem.

Então não haverá solução?

Claro que há.

Ela começa por você!

16 março, 2009

Os amigos são pessoas que sentam na mesma mesa que a minha. Ou então que sentam na calçada e dividem copos de cerveja  e angústias. Os outros são pessoas com quem não faço a menor questão de me relacionar. Que Deus me livre dos malas e dos sujeitos mal intencionados. Acreditem, há muitos deles por aí. Só quero fazer bem o meu trabalho, acertar as oito bolas no menor tempo possível e beber meu whisky devagar e sem nenhuma ansiedade.  Não quero muito da vida. Só a manhã que há de vir.  E eu ainda espero estar por aqui pra recebe-la com uma encabulada declaração de amor.  

11 fevereiro, 2009

Faxina Interna

Gostou, mas tem vergonha?

Discordou, mas se calou?

Ficou com raiva? 

A ordem aqui é colocar tudo para fora, sem pudores. 

Vale o anonimato. 

;)



Karla Ribeiro

http://faxinainterna.blogspot.com/

funeral .

Nos besamos en tu auto y fue genial
quedo ahí, arbitral
es fatal...

No, no es fatal, es normal
es algo que pasa en general
como una tension abdominal
o una inflamación uretral

Pero lo mio es un dolor visceral
no trimestral, ni primaveral

es sepulcral.

Tu silencio es sepulcral.

NARANJUELA: BUENOS AIRES, ARGENTINA
http://naranjuela.blogspot.com/

06 fevereiro, 2009

VHS

" (...) Saio à noite, vou aos bares que costumo frequentar. Vou numas de trombar com os amigos, simplesmente. Conversar um pouco e beber. Na verdade estou cansado de bares. Queria encontrar uma maneira de não frequentar mais bares. Frequento bar desde que era um moleque recém saído das fraldas. Meu pai nunca foi de me levar pra passear em lugar nenhum, mas de vez em quando ele ia beber e me levava junto com ele pro bar. Eu já gostava muito. Também fiz isso com minha filha. Ela mal sabia andar e já frequentava bares comigo. Lembro dela andando entre as mesas com menos de 2 anos de idade e toda a rapaziada a conhecia. Davam chocolate e refrigerante pra ela que adorava. Até hoje ela gosta de ficar nos bares comigo. Continua se divertindo. Mas eu é que não tô me divertindo mais. Quando um bar é bom, a música é ruim. E eu não suporto música ruim. Não há nada que me tire mais do sério. Bar quando quer segurar cliente atrai todo tipo de mala sem noção. Perde a personalidade porque quer agradar todo mundo. E vamos ser francos, ninguém agrada todo mundo. Ainda bem. E nós que somos frequentadores, temos que conviver. Sem contar que sempre trombo com algum (ou alguma) filho da puta e acabo perdendo a cabeça, quase saindo na porrada, esse tipo de merda. E não tenho o menor interesse nisso. Mas acho que essa é a média da humanidade, né? (...)"

leia o texto completo de Mário Bortolotto aqui:

05 fevereiro, 2009

A adolescência na lata do lixo

"Continuo – depois de quase um quarto de século – achando o Silvio Santos melhor que os Titãs. Muito melhor. Toda a contestação, todas as privadas vomitadas e a “violência” primordial do grupo não resistiram a um “Qual é a Música?” Tá tudo documentado no filme do Branco Mello, "Titãs – a vida até parece uma festa".

O filme é muito bom. Tem um roteiro inteligente e direto, sem enrolação. Até as imagens precárias e mal iluminadas dos bastidores e porões reforçam a narrativa-colagem, Branco Mello acertou em cheio. Porém, acertou no alvo errado. O problema é que eu era um adolescente nos oitenta, e aquilo foi uma merda para mim.

Explico. Digamos que as imagens captadas por Branco Mello não se prestaram apenas para reforçar meus preconceitos com relação àquela época, mas sobretudo foram úteis para reafirmar minha convicção de que a adolescência é o período mais patético da nossa existência, e de que o Silvio Santos realmente é um gênio. Ta lá no filme. O Homem do Baú encaçapou os garotos e seria capaz de, sei lá, encaçapar um Andy Warhol em quatro tacadas se quisesse. Nem os Titãs, nem os culturetes daquela época – e nem as bichinhas culturais ilustradas de agora – jamais aceitariam e/ou compreenderiam um negócio desses. É muita areia pro caminhãozinho tropicalista deles. Embora alguns tenham se esforçado. Há pouco tempo, a consciência ilustrada começou a pesar terrivelmente e, num esforço sobre-humano, os vagalumes e pirilampos dos segundos cadernos resolveram reciclar Odair José e outros lixos transformando-os em ídolos “cults”. Mas esse é outro assunto. Não quero me perder em digressões.

Voltando ao filme. Os garotos do Titãs pagaram pau pro Silvio Santos, e o constrangimento deles era visível. Sabem por quê? Porque quem tripudiava do cabaço e subvertia a “subversão” deles era o dono da festa. O Homem do Baú foi quem, ainda nos cueiros, civilizou os “bichos escrotos”. Viraram franguinhos de granja eletrônica.

Os olhares “subversivos” que Nando Reis e Paulo Miklos trocam no programa “Qual é a música?” resumem não apenas o espírito rendido do rock and roll brasuca, mas a perda de tempo que foi a década de oitenta aqui em nossas plagas. Pensando bem – com exceção do Cazuza – a Aids matou pouco e foi a trilha sonora merecida desses mauricinhos que sempre usaram Jontex para fazer rock and roll, digo, para se proteger e garantir o churrasquinho no condomínio fechado, enfim, para zelar pelo conforto de suas proles caretas e respectivas carreiras bem-sucedidas. Qual é a música? (...)"


leia o texto completo "Qual é a música?" de Marcelo Mirisola aqui:

http://congressoemfoco.ig.com.br/DetArticulistas.aspx?articulista=561&colunista=22

26 janeiro, 2009

"Vejo a utopia no horizonte. Tento me aproximar dela e dou dez passos. Ela se afasta de mim dez passos. Ando mais dez, e ela se afasta mais dez de mim. Ando mais cem passos, e ela se afasta cem passos imediatamente de mim. Para que serve, então, a utopia? Serve exatamente pra isso. Para fazer andar..."

Eduardo Galeano

23 janeiro, 2009

ISRAEL COMETEU CRIMES DE GUERRA

A denúncia é de Richard Falk, relator especial da ONU sobre a situação de Direitos Humanos em Gaza.


Richard Falk é judeu e foi expulso de israel.


A entrevista de Falk aconteceu em Genebra:


"A evidência da violação da lei humanitária é tão clara que não tenho nenhuma dúvida da necessidade de uma investigação independente que demonstre que Israel cometeu crimes de guerra",


"Um bloqueio de 18 meses contra a Faixa, um bloqueio ilegal de alimentos, remédios e combustível que pode ter afetado a população de Gaza por toda uma vida."


Além disso, para o relator da ONU, que é judeu, os crimes de guerra se agravam pelo fato de israel não ter permitido à população civil deixar o território antes de bombardeá-lo.


"Não há relatos de uma população inteira ficar bloqueada em uma zona de guerra e sem a possibilidade de fugir e se transformar em refugiados", explicou.


Falk acrescentou que o crime é ainda mais grave, porque 70% da população de Gaza têm menos de 18 anos.

"Foi uma guerra contra crianças".

"Elas podem ficar afetadas para sempre, porque não somente sofreram por um ano e meio com o bloqueio, mas sofreram com os danos e o medo de uma guerra".

O relator da ONU descartou totalmente o argumento de Israel de que a ação iniciada no dia 27 de dezembro estava baseada na "autodefesa".

"Este argumento não tem base legal e, além disso, o uso absolutamente desproporcional da força descarta totalmente o argumento da autodefesa".

Falk disse que é necessária uma condenação explícita do Conselho de Direitos Humanos da ONU, e defendeu o início de julgamento internacional.

Fontes médicas de Gaza atualizaram ontem o saldo de vítimas da guerra: 1.330 mortos (sendo 437 menores de 16 anos, 110 mulheres adultas e 123 idosos) e 5.450 feridos.


Pergunto: como se comportará o governo dos Estados Unidos diante de uma denúncia de tamanha gravidade?


Permitirá que os governantes de israel sejam condenados por crimes de guerra ou exercerá o seu poder de veto?

Vamos ver a que veio Barak Obama.

21 janeiro, 2009

NAQUELA NOITE 

Naquela noite eu não fiz nada que não confirmasse plenamente minha opção de vida, meu sacerdócio. Não decepcionei meu fígado bebendo menos do que ele esperava. Não fui pra casa e fiquei ouvindo alguma música vagabunda em alguma rádio de Internet. Não pedi desculpas, nem admiti erros que não cometi. Em vez disso, apenas andei sem rumo como costumo fazer quando as coisas fogem do controle. Entrei em bares e bebi Domecq como não costumo fazer. Sempre vou de whisky, mas naquela noite a porra do bar não tinha gelo. Então fui de Domecq já que a merda do boteco também não tinha Jack Daniels. Vi uma mulher fazendo um boquete num sujeito dentro de um carro e o cara não parecia feliz. E quer saber? Não o culpei por isso. Tenho evitado apontar o dedo na cara de quem quer que seja. Tenho pensado insistentemente que no segundo seguinte posso estar sendo chutado com a cara no chão. Então que adianta bancar o fodão? Penso que apenas devo fazer as coisas do meu jeito antes de atravessar a fronteira. Dizem que é pra breve. Naquela noite, pessoas morreram em algum lugar. Outras enlouqueceram. Algumas até pareciam felizes. Eu era só um cara andando sem rumo e bebendo Domecq como não costumo fazer. Mas teve um momento que eu me emocionei ouvindo no telefone uma amiga que contava chorando sobre o amigo que ela tinha perdido. Definitivamente perdido. Algumas coisas são definitivas. Eu estava bêbado demais pra acreditar que aquele era o lugar ideal, pra se estar, naquele momento, naquela hora da madrugada. Mas não era uma noite perfeita. Eu estava bebendo Domecq. Pensando bem, era uma noite bem esquisita aquela. Então voltei pra casa. Minha filha estava dormindo. Ela parecia tranqüila. Abri as janelas e respirei com dificuldade. O telefone tocou e eu deixei tocar. Deitei na rede e dormi como fazem os caras que não traem seu estilo de vida, seu sacerdócio. Foi uma noite filha da puta de desgraçada, mas ainda era eu que estava ali balançando naquela rede. E ainda era eu quando finalmente adormeci. Eu merecia um sonho bom. Naquela noite.



 Escrito por Mário Bortolotto