25 setembro, 2008

Nirvana, Morumbi, 1993, festival Hollywood Rock

Essa mitológica apresentação do Nirvana em São Paulo, em janeiro de 1993 é tida pela banda como a mais desastrosa da carreira do grupo de Kurt Cobain. A crítica musical brasileira malhou. Mas ninguém da platéia estava nem aí para isso. Gente do Nirvana disse à época que foi o maior público para o qual o grupo se apresentou. O show foi uma ZONA, mas o Nirvana tinha acabado de deixar a música pop uma zona, de qualquer modo. Então fazia sentido. A palavra que eu mais gosto de utilizar para definir esse concerto é: CATARSE. Ver o Nirvana, naquele instante, aqui em São Paulo, era como ver os Beatles em San Francisco em 1966. Estar no Morumbi naquela noite parecia ao mesmo tempo que algo novo estava começando na vida de todo mundo, mas que também parecia ser o fim de tudo. Eu, que não sou de chapar em bebida, vi o show completamente atrapalhado, na frente do palco, no meio da muvuca. No outro dia, meu corpo doía. Eu estava inteiro roxo.

Até hoje, 15 anos depois, recebo emails de gringos ingleses e americanos querendo detalhes do dia em que Kurt Cobain subiu ao palco fora de órbita no Morumbi. Imagino que seja o show de rock mais procurado do mundo, talvez porque é o que menos se tem imagens. Já me ofereceram 500 dólares por uma fita que contivesse o show, porque uma vez surgiu o boato de que eu tinha uma cópia. Mas não. Amigos meus já vasculharam os arquivos da Globo e da MTV, mas esse show nunca apareceu. A Globo transmitiu ao vivo o show do Rio, na semana seguinte, então esse tem fácil. Comprei a fita dele em Camden Town, em Londres. Apresentação da Maria Paula. Reportagens de Maurício Kubrusly. Mas o do Morumbi… Teoria da conspiração roqueira total.

Na internet, até um tempo atrás, tinha uns 10 minutos de imagens, apenas. No famoso vídeo/DVD oficial “Live! Tonight! Sold Out!” tem cenas do show no Morumbi. Traz a antológica apresentação da banda no palco, feita pelo João Gordo, que introduziu o trio gritando: “E com vocês, a maior banda underground de todos os tempos. Nirvaaaaaaaaanaaaaaaa”. O show todo foi doido, esquisito, estranho e, talvez por tudo isso, maravilhoso. Kurt Cobain estava fora de si, chapadão, devagar demais. Engatinhou no palco, quebrou tudo, se vestiu de mulher. Quando o Nirvana começou sua performance com “School”, na platéia parecia que o mundo ia acabar. No palco, Kurt Cobain estava com rotação alterada, e Krist Novoselic e Dave Grohl estavam desesperados. O show continuou caótico. “Smells Like Teen Spirit”, com Flea dos Chili Peppers no trompete, quase não saiu. Em certa altura, começaram a tocar Iron Maiden. Depois passaram a zoar. Kurt sentou na bateria, Krist foi para a guitarra, Grohl no baixo e vocal. É histórica a foto que saiu de Kurt na capa da Ilustrada, da “Folha de S.Paulo”, sentado à bateria, com a legenda dizendo “Dave Grohl, baterista do Nirvana”. Enfim, o Nirvana começou a zoar com tudo. Passaram a tocar só covers: Duran Duran, Queen, Clash, “8675309/Jenny”. O show parecia um ensaio numa garagem fuleira de Seattle, não diante do “maior público da banda”.

Seis anos depois da apresentação do Nirvana no Morumbi, cinco anos depois do suicídio de Kurt Cobain, tive oportunidade de entrevistar o gênio Dave Grohl em Miami, na ocasião do lançamento de um disco do Foo Fighters. Quando veio o assunto do show do famooooooooso show do Morumbi, Grohl ficou louco. Desembestou a falar mais do que do próprio disco de sua banda. Dave Grohl disse o seguinte: “Claro que eu me lembro dos shows no Brasil. Em SP, tinha uma loja de presente do hotel onde estávamos que vendia Valium (Maksoud Plaza). Ou algo parecido. No momento de ir para o estádio tocar, fui procurar o Kurt e ele estava lá nessa loja, tomando um comprimido atrás do outro, sei lá quantos. Fiquei horrorizado. Quando entramos no palco, a multidão urrou como eu nunca tinha visto, umas 80 mil pessoas. A primeira música que tocamos foi “School”, que começava assim (aí Grohl faz o som de guitarra com a boca e reproduz a bateria nas pernas). Só que Kurt começou com uma microfonia absurda, sem parar nunca. E, quando entrou na música, foi assim (Grohl faz o som de guitarra de novo, só que num ritmo muito mais lento). Ele estava em outra rotação. Olhei para o Krist (Novoselic, o baixista) na hora. Ficamos apavorados. Vi Krist chegar no ouvido dele e dizer: “Acelera, acelera. Pelo Amor de Deus”. O legal é que o público não estava nem aí e urrava tão alto quanto a música. Foi inacreditável. E no outro dia um jornal disse: Nirvana faz jam session para 80 mil pessoas. Foi loucura. Tocamos até “Rio”, do Duran Duran. Outra hora, mudamos os instrumentos: eu toquei baixo, o Krist tocou guitarra e o Kurt foi para bateria. Foi insano.” Isso: foi insano.

O setlist do show do Morumbi, achei na internet, é assim: School • Drain You • Breed • Sliver • In Bloom • About A Girl • Dive • Come As You Are • Love Buzz • Lithium • (New Wave) Polly • D-7 • Smells Like Teen Spirit (com Flea, do Red Hot Chili Peppers) • On A Plain • I Hate Myself and Want to Die (jam) • Negative Creep • Been a Son • Something In the Way • Blew • Aneurysm • Territorial Pissings • Run to the Hills (jam) • Heartbreaker (jam) • We Will Rock You • Should I Stay Or Should I Go • Rio • 867-5309/Jenny • Kids In America • Seasons In the Sun • Lounge Act •Heart-Shaped Box • Scentless Apprentice • Milk It

A palhaçada na cover de “Seasons in the Sun” é emblemática. A música louca dos anos 60 que virou sucesso mundial absurdo nos anos 70 na voz do desconhecido (na época) Terry Jacks, dizem, virou cover do Nirvana pela última vez em São Paulo. A canção era chamada por alguns também como “O Moribundo”, porque a letra era a mensagem de um cara que estava morrendo e se despedindo dos amigos e da mulher. Ambigua, não se sabia se o cara ia se matar ou estava morrendo por causas naturais. Pouco mais de um ano depois da performance do Morumbi, Kurt Cobain se matava em sua casa, em Seattle.


14 setembro, 2008

Jornal do Brasil, Caderno B, p. 5 - 13/06/1977

"...a música sertaneja compõe 40% da produção total de música popular no Brasil. (...) Feita para atender ao gosto de populações rurais da periferia das cidades, e ainda a camadas da própria área urbana ainda não integradas no novo universo cultural a que foram atraídas, a música sertaneja passa a incorporar, num dado momento, os confusos e desajeitados impulsos de ascensão social do seu publico. E, assim, num processo em tudo paralelo ao que se verifica ao nível da classe média urbana, quando adota instrumental eletrônico e estilos estrangeiros para 'atualização' e 'desenvolvimento', artistas e público de origem rural rejeitam seus ritmos e características locais (que lhe lembram o estágio de pobreza e subdesenvolvimento de que desejam sair) e partem para a salada de estilos que representa exatamente o seu momento de choque cultural-social".

08 setembro, 2008

Música na ANPUH

Canções de George Gershwin, Astor Piazzolla e Antonio Rago

Ângela Calderazzo (soprano), Júnior Benício (tenor), Luzia Margareth Rago (mezzo-soprano), Jonatas Costa (piano), Willian Gomes (violão), Cícero Barbosa (contrabaixo) e Antonio Rago Filho(violão).

dia 11 de setembro, quinta-feira, às 18h.
Saguão do IEB
Av. Prof. Mello Moraes, trav. 8, 140
Cidade Universitária - São Paulo/SP

ANPUH-SP 2008

XIX ENCONTRO REGIONAL DA SEÇÃO SÃO PAULO DA ANPUH

Poder, violência e exclusão

8 a 12 de setembro de 2008

Local: Depto de História - FFLCH/USP – (Cidade Universitária/campus Butantã)

Estarei lá esta semana para o minicurso:


Contra o inimigo nacional: interseções entre força, violência e legalidade no período dos governos militares brasileiros de 1964-1985.
Márcia Pereira da Silva (Dra, Unesp/Franca).
E para o Seminário Temático de História & Música Popular:

Andrea Maria Vizzotto Alcântara Lopes. As canções de Gonzaguinha e ivan Lins e o conceito de engajamento.

Eliana Batista Ramos. A contra-hegemonia proclamada pela juventude brasileira nas canções de rock dos anos 80.

Priscila Gomes Correa. Chico Buarque e Caetano Veloso: interfaces de um cotidiano urbano, primeiras canções.

Francisco Rocha. Samba e Modernidade: Mal traçadas linhas no território da metrópole.

Jean Carlo Faustino. O êxodo da viola: compreensão do êxodo rural a partir da música caipira.

Jonas Rodrigues de Moraes. “truce um triangulo no matulão (...) xote, maracatu e baião”: A performance musical de Luiz Gonzaga na construção da “identidade” nordestina.

Eduardo Kolody Bay. Tropicalismo: Ressonâncias e (re)significações.

Valéria Aparecida Alves. As múltiplas faces do Tropicalismo: as propostas de inovação da música popular brasileira na década de 60.

Maíra Zimmermann de Andrade. Jovem Guarda Além do iê iê iê: Estilo de Vida Jovem nos Anos 1960.

Virgínia de Almeida Bessa. Pixinguinha, Radamés Gnattali e o “branqueamento” da música popular.

Amanda P. Aves e Sandra C. A. Pelegrini. “Black is beautiful”: arte, identidade e política na obra musical de Toni Tornado (1970).

Emilio Gonzalez. Música, política e identidade(s): a construção de alternativas e a emergência de novos atores na música popular latino-americana.

Tânia da Costa Garcia. Música popular e identidade nacional nas páginas da Revista de Musica Popular.

Adalberto Paranhos. Mares de morros: a bossa nova nas Geraes.

Mesa 03 - Memória e História da Oposição à Ditadura Militar.Ana Maria Camargo - USPMaria Aparecida de Aquino - USPMarcos Del Royo - UNESP/MariliaLucio Flávio de Almeida - PUC/SP

02 setembro, 2008

Fica a dica

A HISTÓRIA NORTE-AMERICANA ATRAVÉS DO CINEMA
20.09 a 02.11.08
aos sábados: das 9h30 às 12h30

PROGRAMA:
1. O cinema mudo e o debate sobre a posse dos meios de produção (filme: Sherlock Jr – Buster Keaton)
2. O New Deal e a política de Roosevelt nos anos 30 (filme: Cidadão Kane – Orson Welles)
3. A caça às bruxas e a contra-cultura dos anos 60 (filme: O bebê de Rosemary – Roman Polanski)
4. A ascensão da Nova Direita e a relação entre política e indústria cultural (filme: Short Cuts – Robert Altman)
5. As novas tecnologias e o desejo da utopia (filme: Matrix)
6. A mentalidade liberal e a retomada dos anos 30 (filme: Dogville – Lars von Trier)


A CRÍTICA BRASILEIRA: OS ESTUDOS DE ANTONIO CANDIDO E ROBERTO SCHWARZ.UMA LEITURA DE CINCO ENSAIOS FUNDAMENTAIS. (CRÍTICA LITERÁRIA: HISTÓRIA E MÉTODOS – MÓDULO I)
20.09 a 18.10.08
aos sábados: das 9h30 às 12h30

1. “Crítica e sociologia” (de Literatura e sociedade), de Antonio Candido. Os campos de trabalho com a literatura. Análise imanente e crítica historicista. Análise formal.
2. “Dialética da malandragem” (de O discurso e a cidade), de Antonio Candido. A redescoberta de Memórias de um sargento de milícias e a “redução estrutural”: o estudo da forma literária como sedimentação de conteúdos histórico-sociais.
3. “Pressupostos, salvo engano, da Dialética da malandragem” (de Que horas são?), de Roberto Schwarz. De novo a dialética em ação: crítica e superação.
4. “Idéias fora do lugar” (em Ao vencedor as batatas), de Roberto Schwarz: elementos historicamente estruturantes da sociedade brasileira e seus pressupostos históricos: o material socialmente formado e seu resultado literário.
5. “Dona Plácida” e “O cunhado Cotrim” (de Um mestre na periferia do capitalismo): a crítica de Roberto Schwarz: Machado de Assis e a figuração do narrador de Memórias póstumas de Brás Cubas, bem como sua compreensão da dinâmica de classes.


PRÁTICA DE ENSINO DE LITERATURA: A PRESENÇA/AUSÊNCIA DO DINHEIRO NA LITERATURA
21.09 a 02.12.08
terça-feira: das 9 às 12h

21/10/08 – Joseph Conrad — Por causa dos dólares.
28/10/08 – Fiodor Dostoeivski — O jogador.
04/11/08 – Bertolt Brecht — A Santa Joana dos matadouros.
11/11/08 – Émile Zola — Germinal .
18/11/08 – Graciliano Ramos — Vidas secas.
25/11/08 – Vinícius de Moraes — O operário em construção. – Bertolt Brecht — Perguntas de um trabalhador que lê. – Chico Buarque — Construção.
02/12/08 – Oduvaldo Vianna Filho — A mais-valia vai acabar, seu Edgar.


PRÁTICA DE ENSINO DE LITERATURA: DIÁLOGOS ENTRE LITERATURA E CRÍTICA
20.09 a 17.10.08
sexta-feira: das 14 às 17h15

1ª aula (1ª parte) – Apresentação do curso. A literatura e seu ensino. A crítica e sua função no ensino de literatura. Leitura solicitada: Ángel Rama – alguns fragmentos escolhidos.
1ª aula (2ª parte) – A crítica literária hispano-americana – percurso histórico. Leitura solicitada: Ángel Rama – alguns fragmentos de “Literatura y sociedad”.
2ª aula (1ª parte) – O crítico Ángel Rama e alguns dos conceitos por ele formulados. (América Latina, Comarca, entre outros) Leitura solicitada: alguns fragmentos escolhidos.
2ª aula (2ª parte) – O ser e o estar da poesia gauchesca. Leitura solicitada: Ángel Rama – “O ciclo literário de uma classe social.”
3ª aula (1ª parte) – Os cielitos revolucionários de Bartolomé Hidalgo. Leitura solicitada: Bartolomé Hidalgo
3ª aula (2ª parte) – Luiz Pérez e a sátira gauchesca. Leitura solicitada: Luiz Pérez
4ª aula (1ª parte) – José Hernandez e a consolidação do gênero gauchesco. Leitura solicitada: José Hernandez
4ª aula (2ª parte) – Conclusão


INSCRIÇÕES:
http://www.fflch.usp.br/