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25 janeiro, 2010

Agarrou a garrafa em que ainda restava um copo cheio de cerveja e o bebeu de um gole, deliciado, como se apagasse um fogo no peito. Porém nem se passara um minuto e já a cerveja lhe subira à cabeça, enquanto um calafrio leve e até agradável corria pela espinha. Deitou-se e puxou o edredom. Seus pensamentos, já doentios e desconexos, foram-se embaralhando mais e mais e num instante um sono leve e agradável se apossou dele. Tomando de prazer, descobriu com a cabeça um lugar no travesseiro, agasalhou-se mais fortemente com o edredom, que agora o cobria em vez do antigo capote esfarrapado, suspirou baixinho e caiu num sono profundo, forte, salutar.


p. 141




10 janeiro, 2010


Logo, a razão ainda não me abandonou por completo, logo, ainda tenho capacidade de pensar e memória, uma vez que eu mesmo me apercebi e me dei conta! - pensou ele com ar triunfal, enchendo o peito num suspiro fundo e contente - Foi apenas uma fraqueza provocada pela febre, um instante de delírio.


p. 106



14 dezembro, 2009

Sabia, aliás, que discernira mal, que, talvez, houvesse alguma coisa que saltasse à vista, mas ele não estava notando. Parou no meio do quarto, meditando. Uma idéia angustiante, sombria, crescia nele – a idéia de que estava enlouquecendo, de que naquele instante não tinha condições nem de raciocinar, nem de se defender, de que talvez não devesse fazer o que estava então fazendo... “Meu Deus! Preciso fugir, fugir!” – balbuciou e lançou-se para a antessala. Mas ali o aguardava um horror como, é claro, nunca havia experimentado.


p. 95

Súbito uma coisa o interessou: por que precisamente em todas as grandes cidades o homem, não propriamente por uma necessidade mas por um motivo qualquer, tem uma inclinação especial para morar e fixar-se justamente naquelas partes da cidade em que não existem nem jardins, nem repuxos, onde há sujeira, mau cheiro, e toda sorte de porcaria?


p. 87

11 dezembro, 2009

Ele cruzou com a mocinha bem junto ao banco, porém, ao chegar ao banco ela acabou desabando sobre ele, numa ponta, atirou sobre o encosto a cabeça e fechou os olhos, pelo visto levada por uma excessiva exaustão. Lançando-lhe um olhar, ele logo adivinhou que ela estava totalmente bêbada. Era estranho e aterrador olhar semelhante fenômeno. Chegou a pensar se não estava enganado. Tinha diante de si um rostinho jovem demais, de uns dezesseis anos, talvez quinze – pequeno, lourinho, bonitinho, mas todo afogueado, como se estivesse inchado. A mocinha, parece, estava atinando muito pouco; cruzou uma perna sobre a outra, e a cruzou bem mais do que devia, e, por todos os indícios, tinha muito pouca consciência de que estava na rua.


p.62

08 dezembro, 2009

Não conseguia traduzir sua perturbação nem em palavras, nem em exclamações. O sentimento de um asco sem fim, que começara a oprimir-lhe e angustiar-lhe o coração já no momento em que ele apenas caminhava para a casa velha, chegava agora a tais proporções e assumia tamanha nitidez que ele não sabia o que fazer de sua melancolia. Caminhava pela calçada como um bêbado, sem notar os transeuntes e esbarrando neles, e só se deu conta quando já estava na rua seguinte. Olhando em torno, notou que estava diante de uma taberna, na qual se entrava pela calçada, descendo uma escada que levava ao subsolo.


p. 26