21 junho, 2007

Carreira Diplomática

Meu amigo Ed me falou que tenho mais chance que ele por estar mais próximo das discussões... Não sei não Ed! Mas não custa tentar. O amigo do Maurício, o Alex, esse sim é o cara. Recebi por e-mail esse texto que aborda o assunto.
Publicado na revista Você S.A., edição Nov./2006

Do Escritório à Embaixada

Com a diplomacia de salão deixada de lado, o Itamaraty exige cada vez mais tino para os negócios e dá oportunidade igual a profissionais de diversas áreas

Por Kathia Natalie

O engenheiro paulista Marcus Vinícius da Costa Ramalho, de 32 anos, estudou no ITA e sempre quis fazer carreira na área técnica. Realizou um sonho quando foi contratado pela EMBRAER, aonde chegou a coordenar um programa da empresa para a Aeronáutica. Em 2002, Marcus decidiu mudar de rota para decolar uma segunda carreira. A opção foi prestar o concurso público para virar diplomata. O engenheiro foi classificado no mesmo ano e pediu demissão da EMBRAER. "Meus chefes ficaram chateados, mas compreenderam minha mudança", diz Marcus, que na época disputou uma das 30 vagas disponíveis no Instituto Rio Branco, a porta de entrada para o Itamaraty. Se tivesse prestado concurso esse ano, Marcus teria mais vagas pela frente: 105 contra 30 de anos anteriores. Como há perspectiva de o Brasil abrir novas embaixadas em países menores da África e da Ásia, o Rio Branco pretende formar mais diplomatas daqui pra frente. Por isso, o número de vagas cresceu muito.
Se você quiser seguir os passos de Marcus e aproveitar essa onda, aguarde o concurso do ano que vem. Mas comece a se preparar agora. A oferta maior não significa um acesso mais fácil à carreira. Os candidatos são muito bem preparados. Há 29 pós-graduados entre os aprovados de 2006, sendo seis doutores e 23 mestres. O processo de seleção, que inclui provas de conhecimentos gerais e idiomas, é rigoroso. Tanto que cinco das 105 vagas ficaram sem dono. Detalhe: não foi por falta de interessados, pois 6.308 pessoas se inscreveram (o que dá uma média de 60 candidatos por vaga).
A matemática carioca Cláudia Assaf, de 35 anos, aluna da nova turma do Instituto Rio Branco, sabe bem como funciona a corrida por uma dessas vagas. Ela prestou o concurso seis vezes. No final de 2005, no auge de seu preparo, já com pós-graduação em relações exteriores e contando com a ajuda de professores particulares, principalmente de Português, ela foi em frente. Ex-analista de sistemas da IBM, Cláudia insistiu porque sempre quis trabalhar na área internacional. "Sinto que posso fazer alguma coisa para minimizar injustiças que vejo em vários países", diz.
Assim como Cláudia, a nova turma do Rio Branco é formada por pessoas cujo sonho é, principalmente, o de servir o país. Apesar de o salário inicial bruto ser de R$7.300,00, a dedicação integral, quase sacerdotal, expulsa os que olham a carreira querendo apenas ganhar dinheiro. "Se fosse assim, continuaria no Direito, pois facilmente eu conseguiria ganhar mais", afirma o advogado goiano Lindolpho Araújo, de 24 anos, colega de classe de Cláudia. No exterior, os salários são maiores e calculados em dólar. É difícil precisar os valores, pois variam de acordo com o posto ocupado e o custo de vida local, entre outros fatores, e de pessoa para pessoa, de acordo com o estado civil do diplomata, seu nível hierárquico e o número de dependentes. Em média, porém, um terceiro secretário pode ganhar entre 4000 e 5000 dólares líquidos, quando trabalha no exterior. Um conselheiro, em torno de 11000 a 15000 dólares, além de verbas para gastos com recepções oficiais e representação. Os diplomatas no exterior ainda recebem ajuda de custo para o aluguel, que cobre de 60% a 100% do valor do contrato até um teto determinado, dependendo do posto.
Se você optar por esse caminho, deve saber ainda que a diplomacia abriga profissionais vindos das mais diversas áreas, como humanas, exatas e biomédicas. Todos têm chances iguais de se dar bem desde que tenham tino para os negócios. Com a abertura da economia nos anos 1990, as embaixadas do país começaram a deixar de lado a dura vida boa da "diplomacia de salão", como figurações em festas, para abraçar temas comerciais. "Agora, a diplomacia é uma promotora do comércio internacional do Brasil e deve buscar investimentos para o país", diz Roberto Teixeira da Costa, sócio-fundador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais. Às vezes, por ingerência política, esse lado comercial do trabalho acaba prejudicado. Isso aconteceu com freqüência nos quatro anos do governo Lula. A atual gestão federal coleciona uma série de trapalhadas na política externa. Deixou-se de lado desde 2003 ações fundamentais para o crescimento econômico do país como a realização de acordos comerciais com países do continente americano. O Itamaraty sob a batuta de Lula preferiu focar questões menos relevantes, como batalhar por um assento no Conselho de Segurança da ONU – provavelmente pela quantidade de empregos que surgiria após a inclusão do Brasil - e aproximar-se de vizinhos-problema, como o presidente e ex-militar golpista venezuelano Hugo Chaves, o ditador cubano Fidel Castro e o muy amigo Evo Morales, da Bolívia.
Levando isso em conta, dá para supor que ter feito parte do Itamaraty nesse período foi um mico. Mas não é bem assim. A diplomacia brasileira é um trabalho nobre e de extrema importância para um país. E, como os governos vêm e vão, você não deve desanimar de seguir essa carreira caso esteja no poder um governante para o qual não deu seu voto. Como em outras áreas, deve-se pensar na trajetória em longo prazo. Aliás, é razoável esperar que metade da vida profissional de um diplomata desenvolva-se em postos no exterior. Não é possível, porém, passar mais de oito anos consecutivos lá fora (dez anos é o máximo para embaixadores). Raramente, um diplomata passa mais de três anos em um só posto. Uma boa notícia é que ninguém é obrigado a ir para onde não quer. No entanto, como a ascensão na carreira tem entre seus requisitos legais um número mínimo de anos de serviço no exterior, todos acabam se inscrevendo para sair do país.
Os postos no exterior são classificados em A(países desenvolvidos e cidades com boa qualidade de vida, como Paris e Nova York), B (Praga, Montevidéu e Santiago, por exemplo) e C (Pequim. Nova Délhi e Quito). O sentido dessa categorização é que há várias regras para equilibrar a escolha dos postos e reduzir privilégios e injustiças. Por isso, quem pega um posto C tem o direito de ir para um A. e aí vai viver em Paris, Nova York, Londres, etc. Bom, você pode se questionar: "E se eu me cansar do serviço público?". Você pode voltar para a iniciativa privada. Como o curso formação de diplomata tem o nível de mestrado e implica uma vasta experiência lá fora, algumas empresas costumam se interessar por quem exibe esse currículo internacional.

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