23 agosto, 2009

10 TRILHAS MARCANTES DA HISTÓRIA DO CINEMA:
- METROPOLIS - de Gottfried Huppertz, uma das primeiras trilhas de filme-mudo compostas especialmente de acordo com a narrativa do filme
- LIMITE - Mario Peixoto foi dos primeiros a sacar como a música de Erik Satie parecia feita para o cinema
- LAURA - a trilha de David Raksin é um dos momentos mais marcantes da Era de Ouro das trilhas sonoras
- PSICOSE - o ponto alto da carreira de Bernard Hermann, virou sinônimo de suspense
- 2001 - Kubrick pôs o Universo pra dançar ao som de Strauss
- EASY RIDER - Primeira trilha a apostar com sucesso no uso de canções compiladas
- DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL - Sergio Ricardo captou a urgência do cinema de Glauber Rocha
- AMARCORD - Nino Rota traduziu musicalmente o universo de Fellini
- STAR WARS - John Williams e o épico intergaláctico que mudou o cinema de hollywood
- PULP FICTION - a compilação de canções marcantes ilustra o cinema de referências pop de Tarantino com perfeição

fonte: Cult Blog.

22 agosto, 2009

19h30

Cheguei muito cedo
esperar é uma tortura
pareço parar no tempo
o relógio se parece comigo

muitas pessoas passam
alguns ainda irão passar
não passa ninguém
eu fico parado

finjo ficar atento
pego um papel para escrever
quem sabe assim fico ligado
o café expresso acabou

toda a cafeína não será suficiente
engulo a angústia no último gole que recolhi da minha boca
cheguei muito cedo
e nem cinco minutos se passaram

20 agosto, 2009

El Poeta Dice La Verdad


Quiero llorar mi pena y te lo digo
para que tu me quieras y me llores
en un anochecer de ruiseñores
con un puñal, con besos y contigo.

Quiero matar al único testigo
para el asesinato de mis flores
y convertir mi llanto y mis sudores
en eterno montón de duro trigo.

Que no se acabe nunca la madeja
del te quiero me quieres, siempre ardida
con decrépito sol y luna vieja.

Que lo que no me des y no te pida
será para la muerte, que no deja
ni sombra por la carne estremecida.



No dia 19 de agosto de 1936, o poeta espanhol Federico García Lorca foi fuzilado à queima-roupa por fascistas espanhóis.

17 agosto, 2009

Hilda Hilst - o espírito da coisa




É crua a vida. Alça de tripa e metal.

Nela despenco: pedra mórula ferida.

É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.

Como-a no livor da língua

Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me

No estreito-pouco

Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida

Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.

E perambulamos de coturno pela rua

Rubras, góticas, altas de corpo e copos.

A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.

E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima

Olho d'água, bebida. A Vida é líquida.

Alcoólicas (1990)

16 agosto, 2009

Poder Moderador do Mercado

Em observância ao real regime reinante, este novo poder tem como fim a transparência das das ações de desenvolvimento da nação, dando formas finais à historia mão invisível descrita pelo saudoso bardo Adam Smith.

O Poder Moderador do Mercado será constituído por um Conselho de federações setoriais privadas, composto por representantes dos mais poderosos setores econômicos da nação.

Os representantes podem ser proprietários de grandes empresas ou conglomerados e/ou executivos de sociedades anônimas por eles escolhidos.

Estarão também neste Conselho representantes das forças armadas e de estatais estratégicas. Estes últimos porém sem direito a voto.

O peso dos votos será proporcional ao lucro das empresas e conglomerados votantes.

Só participarão desta eleição empresas com lucros líquido real auditado.

Poderão participar deste Conselho representantes de empresas transnacionais, desde que detenham interesses econômicos reais ou virtuais inconfessáveis por nossa nação.

Haverá ainda neste Conselho representantes ou representantes dos antes chamados negócios ilícitos, não regulados por legislação complementar, que passarão a se chamar Empreendedores Paralelos – incluem-se neste setor o contrabando, o tráfico de drogas, as empresas de dumping e do mercado monetário, trustes e escritórios de Direito Tributário.

13 agosto, 2009

Crescente, cheia, minguante (Antonio Prata)

Estava ali no sofá, Coca-cola numa mão, controle remoto na outra, quando dei de cara com a lua, na TV Cultura. Uma voz seríssima - como convém aos narradores de documentários - perguntava: “de onde terá vindo?”

Ora, até aquele momento, eu pensava que a lua não tivesse vindo de lugar nenhum, simplesmente girasse ao nosso redor, des’que o mundo é mundo, a influenciar marés e poetas bissextos. Pois o homem disse que não. Houve uma época em que toda noite era escura, não havia marés nem poetas bissextos e a Terra rodava em torno do sol, desnuda de seu satélite natural.

“E aí?! E aí?!”, perguntei-me, angustiado em meu sofá, como se perdido no breu das noites primevas. Bem, não se sabe exatamente. Ou vários pedregulhos que estavam vagando por perto - serragem da criação do Sistema Solar - acabaram se aglomerando e formando a lua, ou, o que é mais provável, ela é um naco da Terra, arrancado pelo impacto de um asteróide. E esse naco, antes disforme, girou por tanto tempo à nossa volta que acabou redondo, “como um caco de vidro à beira mar.” – palavras do narrador.

Uma das missões do programa Apolo era descobrir do que a lua era feita e, assim, provar uma das teorias. Se fosse sangue do nosso sangue, seria filha do impacto. Se feita de serragem do sistema solar, a hipótese do aglomerado vencia. Pois Neil Armstrong e seus colegas trouxeram todos os pedregulhos que couberam nos porta-malas do módulo lunar, os cientistas da NASA analisaram tudo com seus aparelhos e, no fim, vieram a público dizer que, bem, não haviam chegado a uma conclusão. A lua era parecida demais conosco para negarmos que fosse nossa costela, mas diferente o suficiente para suspeitarmos que, bem, talvez não fosse.

O mais incrível, contudo, o homem de voz grave deixou para o final. Em 1969, os astronautas deixaram em solo lunar um quadradinho de cristal, menor do que uma carta de baralho. Toda noite, desde então, num vilarejo do Texas, um sujeito chamado Phil pega sua bicicleta, pedala até o topo de uma colina e puxa o gatilho de um enorme canhão de laser, mirando bem no meio do quadradinho. O laser bate lá, volta à Terra e Phil anota quanto tempo demorou. A cada dia, o raio demora mais para voltar, o que prova algo que os cientistas já desconfiavam: atraída pelo sol, a lua se afasta de nós, 1,89 cm por ano. Um dia, ela estará tão próxima ao sol que será engolida pelas chamas.

Terminado o documentário, eu estava melancólico como o diabo. No fim das contas, a lua se parece muito com outra coisa, que sabemos do que é feita, não exatamente como surgiu e só podemos afirmar com certeza que um dia acabará. Enquanto isso, brilha - dirá o poeta bissexto. Algumas noites, algumas noites...


Antonio Prata:

http://blog.estadao.com.br/blog/antonioprata/

12 agosto, 2009

1976

Não o conheci
no ano em que nasci ele faleceu
sua vida passou em branco
e suas fotografias estão esquecidas em alguma gaveta

as informações sobre ele foram chegando aos poucos
claro que não vem ao caso
explicar os descaminhos do avô à uma criança
por isso eram poucas as referências

“olha: esse é seu vô!”
e só
imagens em preto e branco
cabelo grisalho e bigode engraçado

se quero saber algo sobre ele tenho que cutucar
me fascina o olhar das pessoas que
buscam o passado quando pronuncio seu nome
é um olhar triste

10 agosto, 2009

Arnaldo Batista, Simonal e Tim Maia

Em vez de Loki, o título do documentário que conta a tragédia de Arnaldo Batista, podia ser: “A capacidade que determinadas mulheres têm para foder com a vida de determinados homens”. Pelo menos a Rita Lee não apareceu no filme para dizer que o coitado que ela resolveu apagar dos seus registros é um gênio. Achei honesto da parte dela. E, para ser sincero, não podia esperar nada diferente de uma senhora que acende incensos, reza para alfaces hidropônicas e condena os consumidores de chuleta ao fogo dos infernos. Parceirinha do Jabor. No documentário, algumas pessoas dão depoimentos sinceros, e confessam a incapacidade diante do desconhecido – o que já é alguma coisa ou pode ser coisa nenhuma, depende do ponto de vista.


Paulo Henrique Fontenelle, o diretor de Loki, costurou bem os labirintos que levaram Arnaldo Batista a si mesmo, mas podia ter evitado o deslumbramento diante de depoimentos de bichinhas internacionais e quiméricas do feitio de Sean Lennon, não precisava disso. Já temos as nossas, muito mais dispensáveis e muito mais afetadas, era só chamar um DJ da MTV e pedir para ele falar meia dúzia de redundâncias, e pronto.


Penso que a única pessoa que tem autoridade de fato para se manifestar com relação à tragédia que aconteceu na vida de Arnaldo Batista (além do próprio), é a mulher que o resgatou da UTI e que cuida dele até hoje. Como se a atual governanta de Batista fosse o avesso da Rita Lee, sendo que as duas – passados os anos - acabaram ficando uma com a cara da outra. Curioso, né?


Agora, o que me deixou transtornado foram os caroneiros e sanguessugas. A figura que não desgruda da minha mente é Nelson Motta. Sempre ele, de óculos escuros, nos lugares certos e nas horas adequadas – tirando sua casquinha. Virou oráculo. Só no Brasil mesmo, a gente merece ter um oráculo das casquinhas. Quem viu o documentário “Cartola” deve lembrar de Nelson Motta, quase um garoto, entrevistando o autor de “O mundo é um moinho”: em dado momento, não sei se foi antes ou depois de fazer uma média com o fascistão do Roberto Carlos, Motta atribui uma certa “realeza” ao sambista. A meu ver, algo tão sórdido e repulsivo quanto as sífilis e gonorréias e o apodrecimento de Cartola em vida. Aquele velho discursinho feito à clef - ontem e hoje, desde sempre - para o deleite e consumo do público lírico e asqueroso do Cine Unibanco. Uma bravata que serve – já escrevi sobre isso, mas vou repetir: - para aplacar conscienciazinhas pesadas. Uma mentira que desde sempre rendeu subsídios simpáticos e muito prestígio para aproveitadores do gênero. Hoje virou política de estado no Governo Lula; estamos, enfim, atolados até a medula nessa merda generosa - às vezes admirável e iluminada (reconheço) - chamada cultura popular brasileira. Ou, como diz o próprio Cartola, “Corra e venha ver o sol”.


Corra de quem? Da polícia?


Nelson Motta nunca precisou correr da polícia, e de ninguém, sempre foi ao encontro do aconchego. Motta é o homem cordial. E, é claro, não podia deixar de escrever a biografia de Tim Maia, e de dar seus pitacos sobre Wilson Simonal, dessa vez como entrevistado. A sentença de Motta: “Simonal era um gênio, Tim Maia também, bastava fazer três pedidos a ele. Arnaldo Batista o maior de todos”.


É muito fácil – depois de quase 40 anos - chegar a essa conclusão esparramado numa chaise-longue. E quando eles estavam vivos e gritavam “eu posso voar” quem é que lhes dava asas, crédito?


Eu só queria ver Nelson Motta, nos 70’s, proclamar que Simonal era um gênio. O documentário do “seu Creysson” defende a tese de que Simonal não era um dedo duro, porém tinha licença para ser um filho da puta. Até aí, nada demais. O problema é que, na época em que Arnaldo Batista enlouqueceu e que Simonal foi apagado do mapa, e que Tim Maia foi proibido de pisar na Rede Globo, nem Nelson Motta nem nenhum outro oportunista deram um pio. Omitiram-se, enfiaram o respectivo rabinho de grife entre as pernas. Não ia ser “bacana”, e eles, Motta e assemelhados, são caras antenados, legais e descolados. Jamais comprometeriam osavoir-faire, eu acho que é assim que funciona. Né? Dá nojo.



texto completo de Marcelo Mirisola:

http://congressoemfoco.ig.com.br/coluna.asp?cod_canal=14&cod_publicacao=29252

09 agosto, 2009

Reprise

Por mais ondas que possam existir
o oceano nunca invadirá o continente
torço para que aconteça
para tudo ficar submerso

sem querer
falo seu nome em voz alta
como o mar de ressaca, sua imagem chega
mas logo as crianças já podem brincar na areia

às vezes você parece tão nítida
que escuto sua risada e vejo o brilho dos seus olhos
repito mais alto
para talvez poder te tocar

resisto
insisto em te guardar e brinco de te ver
posso te apagar e te esquecer a hora que quiser
mas não quero

05 agosto, 2009

Ruas

Sentei-me num dos bancos
não muito no fundo
porque chacoalha muito
quase todos estavam vazios

ainda escuro, luzes acesas
mas já podia notar que não duraria muito
abri o vidro, mas fechei
manhã fria

quando havia uma parada súbita
as cabecinhas das pessoas avançavam
contra a vontade
algumas mãos inconscientemente se erguiam

agora com o sol batendo do meu lado esquerdo
fechei os olhos
não dormi
sabia minha cidade de cor