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Foi num desses desejos de voar
quando dei por mim
estava flutuando
me segurei nas grades da janela
acabo escapando
os fios de alta tensão
se enroscam na canela
sabor elétrico nos olhos
tudo muito pequeno
o corpo formigando
entro em órbita
sou um satélite artificial
piso em Saturno
sou preso pela polícia espacial
por contrariar a gravidade
tenho direito a um telefonema
Parei estático
em frente da folha em branco
perfeição desafiadora
mergulhar nas suas águas
um lápis sem ponta
sem apontador
tento arrancar com a unha a madeira
para chegar até o grafite
contração involuntária
convulsiva dos músculos
não obedecem à vontade
desespero
jogo tudo no chão
rasgo a folha
começo a chorar
até que acho uma caneta
Não estava muito certa de sua ação
agia de forma hesitante
abriu a primeira gaveta do armário
para apoiar os pés
pensou escutar a porta da sala
se assustou
quase caiu
mas era só o vento que trazia a chuva
tateou o teto do armário
era lá que sua mãe guardava um segredo
pelo menos era assim que julgava ser
mas estava enganada
era um porta-retrato
de seu irmãozinho
um sorriso vivo
uma saudade emoldurada
Os olhos vermelhos dela
denunciavam que ela havia chorado
botei culpa no tempo maluco da cidade
uma hora faz sol, outra hora esfria
ela apontou para a esquerda
as minhas coisas
estavam num canto
prontas para eu pegar
algumas roupas
um violão
sacolas com discos
um vaso com um girassol
sem querer deixei cair um livro
o marcador estava no meio
pode levar, disse ela,
não vou conseguir terminar
Abro as persianas
em vão
ventila muito pouco
inutilmente o ventilador gira
desço as escadas em busca de ar
pessoas sobem
o corredor é apertado
braços suados se encostam
lá fora não há sombra
somente o sol
esmagador
não poupa ninguém
não tenho coragem para subir novamente
limpo o suor da testa
limpo o suor da nuca
e volto a trabalhar