20 outubro, 2011

Para a garota desconhecida



Ela entrou na estação seguinte
sentou-se ao meu lado
colocando-me num estado febril
foi o suficiente

já não existia ordem lógica em meus pensamentos
fiquei estranho
não sabia que ainda era capaz de ficar assim
insuficiente

esbocei murmurar
gostaria que ela notasse minha displicência
tinha três ou quatro perguntas para lhe fazer
mas não fiz nenhuma

tive uma idéia melhor
tirei meu bloco de anotações
e comecei a escrever-lhe um poema
foi aí que ela notou que eu existia


11 outubro, 2011

Degelo



Preciso pensar em outra coisa
disse ele de si para si
sabia que se continuasse pensando nela

não conseguiria dormir

teve medo de ir ao interruptor
ela poderia surgir
mesmo assim saiu da cama e acendeu a luz
a madrugada se despedia

foi até a cozinha e bebeu leite no gargalo
foi até a janela e fumou um cigarro
no banheiro lavou o rosto sem sabão
não estava só ao mirar seu reflexo no espelho

era ela
que fora atraída pelos seus pensamentos
o cheiro de perfume envolveu toda a casa
o mesmo que ela usara no dia de sua morte